Em razão do projeto de um ensaio sobre a rotinização da pesquisa na universidade brasileira,estou relendo Eric Hobsbawm. Mais precisamente, um capítulo do seu Era dos Extremos: Feiticeiros e aprendizes – as ciências naturais. Este livro é, por si só, uma prova vigorosa da capacidade intelectual desse velho historiador inglês nascido no Egito. Escrito às portas dos 80 anos, é um livro de impressionante frescor intelectual, pelo alcance de suas teses, pela inteligência das análises e pela fartura de informações. Creio que o mais triste que pode acontecer a um homem de pensamento é o envelhecimento intelectual, e, ocorrência mais trágica, o envelhecimento intelectual precoce. De modo que não ser ultrapassado em vida, manter-se até o fim de seus dias com a cabeça adiante do seu tempo, ou no limite dele, nas suas fronteiras, deve ser a felicidade mais plena para um homem que escolheu o estudo como trabalho. Beirando os 80 anos, Hobsbawm mantinha-se como um dos melhores intérpretes de sua época; mas hoje, aos 93, não perdeu a juventude intelectual.
O capítulo em questão é particularmente interessante. Hobsbawm, que dedicou muito do seu trabalho à história social e a sua vertente política, apresenta-se aqui como um grande historiador da ciência, descrevendo com elegância, clareza e rigor teorias intrincadas que mobilizaram a comunidade científica e que se materializaram, muitas delas, na forma de tecnologias que alteraram grandemente as práticas sociais. As ideias de físicos, matemáticos, biólogos e químicos, o contexto que as produziu, as consequências delas e as reações que provocaram são esmiunçadas pelo historiador, que vê sair daí uma nova forma de ordenar o mundo e de viver nele, o que tem sido confirmado por sociólogos, quando se referem à nossa época como a Sociedade do Conhecimento, reconhecendo nela o papel central ocupado pela produção científica e tecnológica, pela inovação, e por economistas, quando calculam as repercussões dessa produção na composição da renda das nações mais avançadas.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
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