(Artigo Inédito)
Aécio Cândido
Não creio que haja dúvidas de que uma universidade se faz com cérebros. Conta-se que Zeferino Vaz, o criador da Unicamp, costumava enumerar, pela seguinte ordem, os elementos essenciais ao funcionamento de uma universidade: “1º - cérebros, 2º - cérebros, 3º - cérebros, 4º - infra-estrutura...” Como resultado desta lógica, a Unicamp rapidamente ganhou destaque entre as melhores universidades do Brasil.
Sem gente formada em nível avançado, uma universidade permanecerá respondendo apenas a uma parte de suas funções, a de reproduzir conhecimentos. Para produzir conhecimentos, o que se faz através da pesquisa, e para produzir gente com capacidade de criar novos conhecimentos, o que se faz através do ensino de pós-graduação, a universidade precisa investir nessa formação de cérebros.
A idéia de que cérebros se formam não parece ser percebida em toda sua extensão. Falta em geral a visão de que podemos formar cérebros como resultado de uma determinação institucional, de uma política. E essa política de formação cabe hoje aos departamentos acadêmicos.
Há consenso certamente sobre o fato de que a UERN precisa continuar a investir em capacitação docente. Mas esse consenso esbarra aí e não realiza o passo seguinte que é se perguntar: que capacitação docente? Em que os professores do departamento devem se capacitar? Para responder adequadamente a essas perguntas, o departamento deve ter definidas suas linhas de pesquisa. Elas são fundamentais para nortear todo o planejamento do departamento a médio e longo prazo. E como estabelecer uma linha de pesquisa?
Saber como nasceram os laboratórios, os centros de pesquisa e os cursos de pós-graduação nas grandes universidades brasileiras pode nos fornecer algumas pistas. Grande parte deles, na verdade, nasceu como resultado da determinação de um cientista que, aportado numa universidade, começa a formar discípulos e a direcionar os estudos para a área de seu interesse. É o exemplo de muitos departamentos de Física, em São Paulo, no Rio e em Recife. É o exemplo da Antropologia na USP e no Museu Nacional, no Rio. Uma segunda via é, a partir de um certo momento, avaliar os recursos humanos de um departamento já existente e identificar qual é sua “vocação”. A partir daí, intensificar essa “vocação”, reforçando o núcleo existente com a formação de novos quadros.
Diagnósticos têm mostrado que os departamentos universitários brasileiros em geral apresentam uma composição excessivamente fragmentada. Em muitos casos, um departamento pequeno, de, digamos, 15 professores, apresenta 15 formações diferentes. Essa fragmentação de áreas e a dispersão de interesses intelectuais impede de criar grupos de pesquisa e, desse modo, de se ter uma produção de maior alcance. Não há aí nada de novo: é fato conhecido que a possibilidade de diálogo, dada pela posse de saberes semelhantes, que o debate entre os pares é o caldo de cultura para a formulação, o avanço e a fecundidade de pesquisas. A vida acadêmica surge daí, desse circular de idéias entre pessoas que, pela proximidade da formação intelectual, podem julgar a pertinência e a qualidade dessas idéias para o avanço do conhecimento.
O estabelecimento de linhas de pesquisa no departamento visa enfrentar o risco dessa fragmentação excessiva, buscando planejar formações complementares, que possam fecundar pesquisa e ensino de pós-graduação. Em outros termos, no planejamento do departamento, as linhas de pesquisa dizem para onde se deve ir. Elas dirão que cursos de pós-graduação os professores do departamento deverão seguir, dirão também que cursos de pós-graduação poderão ser criados e ainda que grupos de pesquisa se organizarão.
O Plano de Capacitação Docente foi, anos a fio, uma peça de ficção, feita para responder a uma exigência burocrática. Não pode mais sê-lo. Pelo simples fato de que ele é peça fundamental na determinação do rumo acadêmico que se pretende dar ao departamento e, por extensão, à UERN. Desse modo, não deve ser encarado como exigência burocrática, mas como peça do fazer acadêmico.
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